
Rodou, rodou... anjo branco alado... asas a planar... luz tanta luz...
A música...
A música...
Pousou, ali... pegou-lhe na mão, negro no branco cálido e pálido de seus dedos gloriosos...
A música...
A música...
Pousou, ali... pegou-lhe na mão, negro no branco cálido e pálido de seus dedos gloriosos...
Singelo, enfrentou-lhe o olhar reprovador carregado de altivez e quase de repúdia, puxou-a contra si e ao som de uma música celestial fê-la dançar em seus braços em rodopios que traçaram cores, brilhos, sabores...
Profana, sem acção deixou-se comandar naquele tango de vida... juro quase lhe ter notado um esboço de sorriso ou medo...
Longos foram os dias e noites... abandonado o seu trono... em Reino de Sacrilégio não se ditaram sentenças, nao se torturaram vontades, não se ouviram uivos de horror nem choraram lágrimas de solidão...
Levou-a consigo, mostrou-lhe o mundo de oposição ao seu... ensinou-a a sorrir, a amar... despiu-a de suas vestes de morte, abraçou-lhe o corpo nu retirou as suas asas e como homem e mulher entregaram-se...
Que visão tão nobre aquela... Deusa do mal e Anjo... em panos brancos... deitados seus corpos tocando-se aqui e ali, repousavam embevecidos de amor...
MALDITA!!!
Acordou em sobressalto, o seu Anjo dormia... aquela voz... MALDITA!!! Gritava-lhe... Profana baixou a cabeça e duas lágrimas cairam ... tinha vendido a sua alma à besta do mal, jurado prestar vassalagem eterna em troca de nunca mais sentir o amargo dissabor de uma desilusão de amor... levantou-se vestiu o seu vestido vermelho de Rainha negra e partiu para o seu Reino...
O Anjo acordou só... e ao ver que Profana partira, voou em seu alcance... Quando chegou... deparou-se com um pérfido cenário, sentada no seu trono Profana deixava-se tocar por homens sem alma, que lhe puxavam as roupas a apertavam... Profana de olhar fixo no Anjo, soltou um gargalhar que ecoou ...
"Heis-te aqui Anjo, este é o meu mundo esta sou eu coberta de defeitos e de orgulho em meus terriveis feitos, não me tentes demover... será inutil!!"
O Anjo ficou, e por amor queimou suas asas, entregando-se ao caminho do mal...Durante uma eternidade submeteu-se aos seus caprichos, humilhado, ignorava a sua dor e todos os dias tentava resgatar a mulher por de trás da Deusa... em vão... um ultimo dia, dirigiu-se a Profana, prostrou-se diante dela e enquanto arrancava o coração com as suas mãos proferiu..
"De nada me serve!!! "
Entregou-lhe o seu coração, e ficou a esperança no ar de que Profana comovida acordasse daquele sono de escuridão... Levantou-se do seu trono sem sinal de qualquer emoção lançou o seu Cepto sobre a oferenda, atirando-o para junto das horrendas criaturas que tinha por companhia que num ápice o devoraram...
O Anjo partiu... e porque amou tão profundamente quem não era digno de compaixão sequer, foram-lhe restituidas as asas e um novo coração sem lembranças de Profana.
Reza a história, que depois do anjo partir, Profana arrancou também o seu coração e o comeu... depois ordenou que construissem um poço com a profundidade de mil mares... onde se lançou ordenando que o tapassem para todo o sempre...
Há quem diga, que por cada vez que um coração se parte se estivermos com atenção, podemos ouvir ainda os gritos e lamentos de Profana...
Narrador