quinta-feira, 16 de julho de 2009

Amor em Letras!


A, B, C...
São letras!

E de letras se fazem palavras...

E de palavras frases...

E de frases se fazem sentidos
que não requerem ouvidos,
porque o Amor também se lê!

É feito de letras este Amor...

É feito de emoções desdobradas em significados tantas vezes deturpados
Pela cruel sentença de se escrever o Amor!
Escrevemos e não dizemos

Sentimos e não falamos

Porque a distância cria coragem
E na ausência da tua imagem
Eu sou eu

Toda eu sem pudor

E clamando a tua presença
Eu me rendo à evidência

De não saber amar, não escrevendo...

Fica-me a poesia como beijos

E a palavra como Amor...




Profana

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Nunca se morre...


Quem te disse que tudo tem um fim?
Porque que te falaram numa única certeza, de morte certa,como certa é a vida...
Ou errada se preferires, mas sempre vivida...

Acalma os terrores que te devoram a alma

Não queiras falsos louvores,

Pois quem louva na partida, sem nunca se lembrar em vida

Tem no dizer o engano de um compadecer mesquinho

Que facilmente se troca
Que facilmente se esquece

E tão depressa desaparece, como veio... e ainda toca o sino...

Nunca se morre!

Faz da dor o sabor da memória!

Da saudade ainda que em desatino,

O momento glorioso que um dia viveste

Os sítios onde estiveste

As conversas partilhadas...

Nunca se morre!

Carregas contigo, no semblante da tua existência,

O que te deixaram sem te pedirem

E hoje parte do que em corpo, já não está aqui

dá passos nos teus passos
Corre-te nas veias enquanto vives...

E quando já não viveres, guarda a certeza de não morreres
Porque enquanto a memória do mundo existir

E ainda que venha o que é certo de um dia vir...

Estarás sempre presente

Porque...

Nunca se morre...

Morremos enquanto vivemos

E quando morremos...

Permanecemos...

Na saudade de quem nos ama...




Profana

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Caneta e papel


É de caneta e papel
É de caneta e papel o pensamento de cores e sabores
É no papel que escrevo dores

E com caneta desenho o melhor de mim...
É numa folha branca

Vazia de tudo

Onde o meu nada ganha corpo
Onde liberto o meu peso morto

Uma folha branca onde tantas vezes procuro o conforto

Mas ninguém sabe, por vezes nem mesmo eu...




Profana

Olhar


Vazio dos meus olhos sem os teus...
A tua presença que sem se notar...

Transborda em mim vontades contidas, suprimidas pelo receio de não agradar

Agradar a ti, que és símbolo da pureza há muito esquecida pelos Homens...

E eu com inocência de demónio me vejo como que aprisionada numa vergonha desmedida!

Só por te ter ali...

A olhar...



Profana

quinta-feira, 9 de julho de 2009

O jogo


Dois adversários avaliando a possibilidade...
E embora querendo o mesmo nunca cedem à vontade...
Fingem não querer, mas morrem de desejo

Afastam o outro com frases de desdém

Têm por árbitro o sentido de cautela
que usam para jogar...
E quando empurram fazendo o "inimigo" recuar,

Nunca podem esquecer

De dar sempre dois passos em frente
Para o desafio não esmorecer
Que jogo este
Que estranha a forma
De lutar desistindo...

De amar sempre mentindo...
E mesmo quando ganha não há vaidade nem festejo na vitória conseguida
Porque quando acaba o jogo...

Pára também a vida!




Profana

Fruto


Doce manto de pele de leite e mel...
Doce carícia que me procura durante a noite

Não abandona, não cobra não sucumbe
Ao temperamento de sete mares revoltos em manhãs que nunca deveriam acontecer!
Tece de dia para dia um amor em teias de seda e cor
Que tem tanto de frágil como de indestrutível esse tão nobre amor...
Que vive de sorrisos, de um olhar um abraço.
Que é meu de carne, de corpo e sangue!

O único, feito desse paradoxo que é viver para morrer...
O único que expulsei de mim para o poder ter nos meus braços...
Meu Amor




Profana

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Cansaço...


Não trago o chapéu, até porque a Lua já há muito que me deixou de queimar.

Na mão vazia, a saudade do que já não recordo sentir, mas que sei que só é bom quando é saudade...

Desbravo por entre gentes , os pensamentos que tento adivinhar... procuro, indago sem falar...


Sou salteadora, pirata de emoções... ou serão apenas recordações, do que já nem sei executar.


Onde está o fogo posto, onde está a derrocada?


Para onde foi o vendaval de injúrias, calúnias e seduções...

O jogo?


O tudo ou nada!


Não sei ser eu sem ser de fel o mel que vendo...

Não sei ser pura, não me assentam vestes brancas e a luz acentua a minha palidez...


Talvez o cansaço da procura...


Arrumo o material, guardo os mapas...


Fico comigo...

Não sei onde estás...


Talvez me encontres...



Profana

Jean-François Amadieu

Jean-François Amadieu
Jean-François Amadieu é um sociólogo francês especialista em relações sociais de trabalho e físicos determinantes sociais da seleção. Ele é o diretor do Centro de discriminação, que realiza testes a fim de conseguir a primeira medição científica dos diversos contratação discriminação na França.

Viver na consequência...

Acordo todos os dias ,e ao olhar em redor apercebo-me que vivo na consequência...
De facto vivemos todos... na consequência de coisas maravilhosas que fizemos, de ideias brilhantes que tivemos, de negócios rentáveis que fizemos ou... simplesmente como eu... na consequência de todas as borradas que fizemos...
A raiva surge todos os dias... de mim mesma... da obstinada ideia de que tenho um potencial infindável... que apenas uso para me "enterrar" cada vez mais...
É preciso ser se mesmo besta...
(Incrível esbocei um sorriso enquanto escrevia "besta")
Pois é meus amigos mas a vida não se faz de lamentações... para isso existem os bloggs...

Ass: Profana

Os tugas primeiro!!!

Numa das inúmeras viagens de carro (quando ainda tinha carro... que não era meu mas bem...) pela manhã, ouvi a notícia da rápida ascensão de caixeira a autora de um best seller...
Uma mulher mundana que resolve passar para o papel as suas histórias tão verdadeiras e tão surreais de um dia a dia ao som de um bip constante da leitura de codigos de barras (fosse do papel higiénico ou de um produto de emgrecimento f'ácil)... apesar de ainda nao ter sido o lançamento do dito livro em portugal resolvi pesquisar.
Para minha felicidade descobri que um português de seu nome Manuel de Freitas já tinha escrito um livro (entre muitos) com alguns denominadores comuns com o primeiro... o supermercado, a mulher, e as histórias...
Se a autora do segundo livro terá tido um tórrido romance com Manuel Freitas e terá plagiado tardiamente a ideia não sabemos...
Ficam aqui alguns "pedaços" do original...

Profana

Isilda ou a nudez dos códigos de barras

Dizem que ressuscitou o rock numa pose de vampiro.
Não sei. Pelas olheiras, sobre o cabedal tão velho, mais parece um agarrado,desses que costumo encontrar no 42.
Mau hálito tem- quase tanto como a voz. Mas leva sempre suminhos, crentes de beleza, fiambre.Dá-me a ideia que nele até o olhar cansado é uma mentira cosmética,que depois usa em voz alta contra o tal"sistema".
Eu talvez gritasse melhor.

Estou a ver o estilo:a folha de canabis ao peito, os óculos de Foucault não-li e uma devoção macrobiótica tão estúpida quanto inquebrantável.
Esta gente custa- e o que é pior:cheira mal.
Assoa-se à mangada camisola, cheio de ideologia nos sovacos. E vem fazer compras como se estivesse outra vez no Lux,entre amigos abstémios que só não legalizam a vida porque ainda há limites para o meu gosto.


Conheço-lhe a tromba da televisão,com a barba rude, intelectual, tão preta- mas a dela também, loura e desfocada. Acho que é dos jornais.São esquisitos, nunca falam(entre eles, ou comigo).Não me agrada assim tanto dizer "boa tarde" a Deus, enquanto vou passando vinhos caros, gine produtos bizarros cuja serventia desconheço. Se a esquerda é isto,bem posso ir esperando subsídios,aumentos, um funeral mais em conta.


É o que se chama um "higiénico": latas,comida feita e embalada, whisky,cerveja ou vinho (quando não os três).
Deve beber-lhe bem e mudar pelo menos duas vezes por semana a areia do gato.
É tímido, inseguro e- por isso mesmo-extremamente rápido a arrumar as compras.Vai pagar outra vez com cartão. Hoje parece mais triste, talvez por no seu íntimo saber já que vai escrever um poema sobre mim, mera ajudante de leiturados códigos fatais em que cada um se expõe.Mas para quê tantas palavras? Bastava-lheter dito que me chamo Isilda e que a vida que tenho não presta.
A dele,suponho, não será muito mais feliz.Escusava era de maçar a gente com o que sofre ou deixa de sofrer.

A minha sabedoria é muda, desumana:um dia enlouqueço ou fico para sempre presa a um pesadelo sentado, com barras transparentes.


Manuel de Freitas

Manuel de Freitas
Manuel de Freitas nasceu em 1972, no Vale de Santarém.
Vive desde 1990 em Lisboa, onde tem exercido as actividades de tradutor, crítico literário e editor. É co-director da revista Telhados de Vidro. Publicou, além de vários livros de poesia, ensaios sobre literatura portuguesa contemporânea e foi responsável, em 2002, pela organização da antologia Poetas sem Qualidades (Averno).
Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Literário Ruy Belo da Câmara Municipal de Sintra.