terça-feira, 24 de março de 2009

Constrangimento...


Procurei em palavras, frases feitas, um pedaço de carne que alimentasse, esse bicho que carrego comigo... o Ego!

Devorei olhares, ri com sonhos e quase me deixei levar por musicas cantadas, ouvidas,escolhidas como óleos perfumados que massajam a auto- estima.

Corri ao seu ritmo, vivi momentos que já não eram meus, fingi que a idade não tinha passado por mim, que não tinha deixado marcas...profundas... irreversíveis...

Enquanto caminhei por aí, falei de cima, contei vivências, senti o travo da inocência do outro e cresci... gargalhei com convicção, sem pudor nem temor eu era o produto da experiência...

A curiosidade que despertava, deu-me asas para subir mais alto, fiz de mim mestre e dos outros pupilos.

A noite...

A mesma onde actuei... o meu palco...o que ele dá... ele tira...

E assim foi no mesmo sítio, onde tantas vezes julguei vencer, marcar, mesmo ali que a minha imagem se desfez, virei sombra do que dizia ser... foi-se embora a convicção, o gargalhar... a boca secou, a garganta apertou e as palavras passaram a uma vontade imutável... silenciosa...

Senti-me frágil, constrangida...julguei até corar por momentos...

A peça onde contracenei, o papel que desempenhei... não de todo a personagem principal... o elenco prosseguiu o enredo, e a história continuou...



Profana

sexta-feira, 20 de março de 2009

Sozinho...


Tudo se mantém imovel... tudo continuou,

A cidade que te viu crescer, que abraçaste tantas vezes e tantas vezes ela te guiou.

O Amor feito de jovialidade inexperiência que experimentou esse gesto maior de gerar vida.

Os teus feitos, tantos... meus primeiros... conversas de legados que ficaram ao balcão de lugares que me trazem imagens... recordações que mantenho vivas a cada passo que dou...

Dúvidas, sonhos desfeitos, as perguntas que te queria fazer e tudo o que te queria dizer...

Lembras? Não te olhei... nesses instante, e queria ter olhado o teu rosto, partilhado um sorriso cumplice...

Mas tu partiste... o que ficou... não chega... e dói...

Carrego a ambição ainda em jeito de sonho, de passar o que tenho de ti a alguém... um pedaço de mim...

Nesses dias mais tristes e cinzentos em que me lembram que não estás, mesmo estando... sempre...

Nesses dias em que a Saudade ganha dimensões imensurávies...

Molho o rosto... sempre sozinho...

"Onde está você agora..."


Profana (Bé)

terça-feira, 17 de março de 2009

Como Fazer Homens de Pedra


Receita: Homem de Pedra


Ingredientes:


1 Homem de coração puro

250g de Amor

250g de momentos inesquecíveis

120g de sonho

125g de loucura

Juras de Amor (qb)

Uma pitada de magia

Esperança a gosto

300g de mentiras

5oog de desprezo

175g de traição

200g de promessas


Preparação:

O truque para o sucesso desta receita, reside na colocação dos ingredientes certos pela ordem certa.

Coloca-se o Homem de coração puro num recipiente adequado, junta-se de uma só vez as 250g de Amor, divide-se as 125g de loucura em diversas partes e vão-se juntando uma a uma mexendo bem.

De seguida, lentamente juntam-se, as 250g de momentos inesquecíveis; as 120g de sonhos depois de irem 3m ao microondas podem-se juntar também.

É importante envolver os ingredientes bem, uns nos outros para que se forme uma pasta espessa e uniforme.

Depois destes ingredientes bem envolvidos junta-se uma pitada de magia e adiciona-se juras de Amor (qb).

Agora nesta fase seguinte vamos necessitar de uma batedeira e um recipiente maior.

Passa-se a massa obtida até então para o outro recipiente, e de uma assentada só vertem-se as 300g de mentiras e bate-se na velocidade máxima da batedeira, nesta fase a cor da massa altera-se para vermelho resultado da introdução das mentiras. Junta-se 250g de desprezo e mexe-se novamente, de seguida as 175g de traição mexendo sempre,a esperança coloca-se a gosto mas em ponto caramelo, juntamente com as 200g de falsas promessas.

Por fim coloca-se as restantes 250g de desprezo, unta-se a forma vai ao forno a 250º durante 6 meses e... Voi Lá!!!


HOMEM DE PEDRA!!!


Profana

domingo, 15 de março de 2009

Tragam-me dor servida em salva de prata!


Rebuscadas palavras... o seu sentido repensado um milhão de vezes na fracção de segundo que a minha impulsividade o permite.

Onde está ? Diz-me... mostra -me, não me a tires porfavor...

Silêncio?? Não, sabes que não, esse não me dá o que quero, se bem que consegue nos meandros da loucura, por entre incertezas ter um leve travo a desgraça.

Letras e mais letras, salteadas com bastantes reticências,como sabes que gosto, porque não finitam nada... fica tudo a pairar no ar, talvez seja vício criado por te ter tido, contigo nada é permanentemente permanente, mas contudo tudo é tão obstinávelmente seguro...

Busco, rebusco, vou até ao limite da pseudo sanidade, exponho a humilhação, digo que já não me importo... espero...

Julguei por momentos ter a certeza derradeira da frase que irias proferir...

E era tão docemente duro e cruel, o seu som...

E tu???

Nada.

Deste-me o nada em troca de escárnio provocatório, de sarcasmo e ironia...

Não era essa frase... essas palavras...

Fiquei novamente agarrada a essa puta de sedas brancas e cabelos ao vento, a esperança...

Aqui no meu Reino de Sacrilégio, onde eu Profana Deusa de todas as Imperfeições, pudesse eu ter sob meu domínio essa tua democracia de verdades...

Do alto do meu trono feito de vermes das mentiras, de pedaços de homens bestas e mil monstros de podridão, diria:

"TRAGAM-ME DOR SERVIDA EM SALVA DE PRATA!"

E todos dançariam valsas mórbidas ao som dos meus lamentos animais, e eu morreria e então seria feliz...


Profana

Acudam !!! Caíu um Deus do pedestal...


Blasfémia!! Calúnia!!!


Não digam que é verdade!?

Caíu um Deus do pedestal... Oh Cruel destino... a que me agarro??

E estes anos todos de dotrina cumprida, devoção inquestionável...

A quem vou eu recorrer agora para me sentir miserável???

Que dedo ou mão inquisidora me apontará pecados consumados e por consumar...

Não queria crer em tamanha calamidade... mas os meus olhos viram... à porta da rua, aquele um dia Deus gracioso detentor da moral e bons costumes... ali sem pudor a agir como um comum mortal???

Em devaneios com a carne fresca de um donzela qui ça uma Deusa proclamada por outro...

Não pudia acreditar no que via, como fora ele capaz de agir como um humano...

Como podia ele ter esse defeito tão monstruoso de sentir...

Saborear...

Nunca mais terei a doce perspectiva de um vislumbre de sua graça, de baixo para cima...


AAAAAHHHHHHH!!!!


Infâmia!


Sigo o meu caminho...

Já nada me resta aqui...

O inantingivel passou a real...

Parto...

Só amo Deuses...


quarta-feira, 4 de março de 2009


(...) Eu sou assim um poeta, já me conheço.

Quando digo que está a chover, molho as pessoas.

Arrebatado,viciado na atracção pelo abismo,

Pela adrenalina das emoções,

De mim até aqui, quem não fugiu morreu.

Vampirizei quem mais amei...(...)

O coração!

Essa máquina de pulsar valente, tão necessário.

De literatura tão frágil, que bater tão solitário...

E alma que não se vê, mas que dizem, traz consigo sentimentos.

A minha... arrasto-a pelo chão ou trago-a pela mão em certos momentos.

Mas se no deambular desta vida, pudesse eu escolher,

te daria a minha vida.

E por ti não importaria morrer.

Como pode um garrano parar de correr, selvagem... ao som furtivo de uma arma, que não lançada por cupido, disparada... Ecoa, na calmaria de um sonho.

Se me vês por entre a folhagem, quase me acharias normal...

Ou invejarias tamanha serenidade e luz.

Que a visão não te deixe iludir... Correrei sempre...

Ainda que corra não querendo, ainda que não querendo não pare!

terça-feira, 3 de março de 2009


Mas que falta de sentido é esta???

O sentido perdeu-se no meio de tanta vontade de resgatar... o que passou... o que não tem volta!!!

Mas gesto louco de rezignação, não tem volta???

Quem disse que não é possivel?? Quem ousou pensar sequer que não se pode ser capaz...

Ah... ainda está pra vir quem me detenha, quem me afogue num mar sem esperança, me despedace e do meu corpo faça alimento às bestas do julgamento...

O meu caminho é só meu... as pedras cortantes, sinto-as veludo...o frio gélido . . uma brisa quente de fim de tarde no verão... os infames monstros voadores que me gritam e mordem... pássaros que chilreiam, acompanhando-me no caminho...

A tua ausência??? Trago- te comigo, gravado em sonhos que ainda não vivemos...

Desbravo... Corro... Grito... Serei mil vezes eu a dona do Mundo!!!

Grotesco ser que se avizinha....

Eu!!!

Jean-François Amadieu

Jean-François Amadieu
Jean-François Amadieu é um sociólogo francês especialista em relações sociais de trabalho e físicos determinantes sociais da seleção. Ele é o diretor do Centro de discriminação, que realiza testes a fim de conseguir a primeira medição científica dos diversos contratação discriminação na França.

Viver na consequência...

Acordo todos os dias ,e ao olhar em redor apercebo-me que vivo na consequência...
De facto vivemos todos... na consequência de coisas maravilhosas que fizemos, de ideias brilhantes que tivemos, de negócios rentáveis que fizemos ou... simplesmente como eu... na consequência de todas as borradas que fizemos...
A raiva surge todos os dias... de mim mesma... da obstinada ideia de que tenho um potencial infindável... que apenas uso para me "enterrar" cada vez mais...
É preciso ser se mesmo besta...
(Incrível esbocei um sorriso enquanto escrevia "besta")
Pois é meus amigos mas a vida não se faz de lamentações... para isso existem os bloggs...

Ass: Profana

Os tugas primeiro!!!

Numa das inúmeras viagens de carro (quando ainda tinha carro... que não era meu mas bem...) pela manhã, ouvi a notícia da rápida ascensão de caixeira a autora de um best seller...
Uma mulher mundana que resolve passar para o papel as suas histórias tão verdadeiras e tão surreais de um dia a dia ao som de um bip constante da leitura de codigos de barras (fosse do papel higiénico ou de um produto de emgrecimento f'ácil)... apesar de ainda nao ter sido o lançamento do dito livro em portugal resolvi pesquisar.
Para minha felicidade descobri que um português de seu nome Manuel de Freitas já tinha escrito um livro (entre muitos) com alguns denominadores comuns com o primeiro... o supermercado, a mulher, e as histórias...
Se a autora do segundo livro terá tido um tórrido romance com Manuel Freitas e terá plagiado tardiamente a ideia não sabemos...
Ficam aqui alguns "pedaços" do original...

Profana

Isilda ou a nudez dos códigos de barras

Dizem que ressuscitou o rock numa pose de vampiro.
Não sei. Pelas olheiras, sobre o cabedal tão velho, mais parece um agarrado,desses que costumo encontrar no 42.
Mau hálito tem- quase tanto como a voz. Mas leva sempre suminhos, crentes de beleza, fiambre.Dá-me a ideia que nele até o olhar cansado é uma mentira cosmética,que depois usa em voz alta contra o tal"sistema".
Eu talvez gritasse melhor.

Estou a ver o estilo:a folha de canabis ao peito, os óculos de Foucault não-li e uma devoção macrobiótica tão estúpida quanto inquebrantável.
Esta gente custa- e o que é pior:cheira mal.
Assoa-se à mangada camisola, cheio de ideologia nos sovacos. E vem fazer compras como se estivesse outra vez no Lux,entre amigos abstémios que só não legalizam a vida porque ainda há limites para o meu gosto.


Conheço-lhe a tromba da televisão,com a barba rude, intelectual, tão preta- mas a dela também, loura e desfocada. Acho que é dos jornais.São esquisitos, nunca falam(entre eles, ou comigo).Não me agrada assim tanto dizer "boa tarde" a Deus, enquanto vou passando vinhos caros, gine produtos bizarros cuja serventia desconheço. Se a esquerda é isto,bem posso ir esperando subsídios,aumentos, um funeral mais em conta.


É o que se chama um "higiénico": latas,comida feita e embalada, whisky,cerveja ou vinho (quando não os três).
Deve beber-lhe bem e mudar pelo menos duas vezes por semana a areia do gato.
É tímido, inseguro e- por isso mesmo-extremamente rápido a arrumar as compras.Vai pagar outra vez com cartão. Hoje parece mais triste, talvez por no seu íntimo saber já que vai escrever um poema sobre mim, mera ajudante de leiturados códigos fatais em que cada um se expõe.Mas para quê tantas palavras? Bastava-lheter dito que me chamo Isilda e que a vida que tenho não presta.
A dele,suponho, não será muito mais feliz.Escusava era de maçar a gente com o que sofre ou deixa de sofrer.

A minha sabedoria é muda, desumana:um dia enlouqueço ou fico para sempre presa a um pesadelo sentado, com barras transparentes.


Manuel de Freitas

Manuel de Freitas
Manuel de Freitas nasceu em 1972, no Vale de Santarém.
Vive desde 1990 em Lisboa, onde tem exercido as actividades de tradutor, crítico literário e editor. É co-director da revista Telhados de Vidro. Publicou, além de vários livros de poesia, ensaios sobre literatura portuguesa contemporânea e foi responsável, em 2002, pela organização da antologia Poetas sem Qualidades (Averno).
Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Literário Ruy Belo da Câmara Municipal de Sintra.