terça-feira, 1 de junho de 2010

Aprisionada


Não é meu o castelo onde teço panos sem fim nas longas tardes em que o guardo,
Já não sou eu dona de mim
Nem dos meus pensamentos,
Nem das minhas razões,
Nem das minhas vontades...
O inquisidor matou sem piedade.
E a morte que me soube tão bem
talvez por me desprender do mal que fiz
Do errado que sou...
Hoje tem cheiro putrefacto de ser aprisionado
A clausura não me trouxe virtudes
Apenas domou o espírito cansado
de longas batalhas
de soldados perdidos e causas falhadas
Pintei-o de cor de rosa... o castelo
Larguei a trança pela varanda
e o doce príncipe
Cortou-me os longos cabelos para que nenhum vilão me tocasse
E no meio do feito
Nem sequer ele se lembrou
que aqueles cabelos que cortou
Eram a chave do meu coração...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Nunca é...

Nunca é...
São as coisas que sonhamos, mas o tempo não tem sol...
São as pessoas certas, mas as palavras erradas...
A vida não é o filme perfeito onde até as lágrimas fazem sentido...
E neste mundo tudo é tão grotescamente real...
Os inícios trazem o vislumbre frágil e fugaz, do sonho...
uma micro-metragem de um tal... um filme perfeito...
São sonhos sim... sonhos dos quais acordamos sem nunca termos estado a dormir..
Nunca é o que queremos, como queremos...
e a solução?
Ficar?
Aceitar por menos os que nos dão e à noite no escuro sonhar com o que intimamente desejamos?
Partir?
Viver uma vida de procura incessante que reenicia a cada fim de filme?
A vida foi feita para se viver... e tão breve... passa por nós num suspiro trémulo...
O palpável apraz, o material dá gozo... mas não sacia a fome da alma...
E quando paramos e olhamos em volta nunca chegamos a viver de facto...
Eu sou da emoção... do toque ao de leve que provoca o arrepio de mil prazeres...
Eu sou do pormenor... da mais infima e pequena coisa, que me faz sorrir e lembrar como é bom respirar...
Se é certo que sem o terreno e mundano não podemos sobreviver... se essa é uma certeza, porque não alimentarmos o outro lado de cada um de nós?
Aquele que dá trabalho sem ordenado, sem patrão e a única compensação é a certeza de estarmos VIVOS!
Não entendo o mundo como é...
Prefiro acreditar no meu... naquele que criei, e onde sou feliz...
No outro sou uma mera sombra, viajo por entre as suas ruas, tão somente porque necessito de manter o meu corpo físico ...
Na minha alma eu estou segura ...





Profana

Um espelho nunca mente...





Já vai longe o tempo de tristezas mornas, feitas do vazio de não amar...
Como saudosas dores, recordo agora os tempos em que era, eu a razão dos meus lamentos...
Um par igual, feito dos mesmos defeitos,
Que vingança tão cruel esta, que doce e amargo fel de sofrer a ferro provando do meu próprio veneno..
Já são só sombras as lagrimas quentes que me aqueciam as noites de solidão, hoje não estou sozinha, mas se tenho por companhia a dor de não ter tendo, para que prolongo o sofrimento de estar contigo e nunca acompanhada...


Não me desvendas os teus pensamentos, sei que o teu sofrimento me dói por eu não ser o todo necessário para preencher esses vazio que te consome...


E se os teus olhos se pões longe para além do olhar, eu sei que não são momentos nossos que recordas...


Aproximo-me, tento te confortar, dar te paz e calor...


Mas não é por mim que o teu corpo chama..


Que a tua alma grita...


Desejava ter sido eu a cravar o punhal contra o teu peito e que o sangue que sangras ser feito das minhas culpas...


O duelo foi travado, o a tua mão mais rápida...


O tiro ecoou na imensidão do nada...


Ficou-me esta vontade de escrever, avivou-se a arte mas morreu parte de mim..








Profana

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Amor dói...




















Sonhos desfeitos...

sonhos que nunca aconteceram a não ser no âmago da minha imaginação

Aquela dor que eu não queria ter,
a que nunca procurei...
A dor da qual fugi com sucesso durante muito tempo,
voltou-me a encontrar
Quero a solução para esse problema meu,
que é só saber amar tudo

Quero estar longe de mim

Quero não te ver mais com estes olhos de água

Não me toques !

Os teus dedos atravessam me,

e sinto-me despida de alma...

quando me olhas

Encerro aqui o coração

Não sei ser feliz

Acaba aqui a dor

e com ela o amor...






Profana

domingo, 16 de agosto de 2009

Igual...
















Trouxe com o vento quente de verão,
a desilusão
ou talvez apenas a descoberta...
Os meus olhos cerram... o fim não está
mas se tudo já acabou dentro deste sono por dormir,

não existes
Afinal eu sou eu

e não me sinto mais por estares aqui

O que procuro não é
Se só queria o amor perfeito
porque me pintaram uma tela de branco...

mas o branco não cobre as figuras desenhadas

e não te vejo por entre falsas passadas...

O que trazes já nem sei,
deixa cair a máscara...
esconder não é mau
mas a representação do que não tens

só faz com que eu te veja como realmente és...
Não te quero entender,
não te vou cobrar,

estou embriagada de cansaço

de calor de calor...

Fora do meu mundo,

não quero ouvir o que tens para me dizer,

só quando me quiseres falar é que eu vou ouvir...



Profana

domingo, 9 de agosto de 2009

Nó...


Projecções de sonhos
de ideias que um dia julguei querer para mim
Mas tudo se esvai em segundos

num olhar que se perde...

numa palavra atirada ao lado,

que por ricochete nos acerta mesmo no peito
Numa pergunta sem resposta
Numa resposta que não serve

Contradição!

Contradição!

Fragilidade de amores de verão

a latejar de pólvora a arrebentar...
que passa, e sem fumaça,

já não lembra o desejo

Nada me passa!

Nada me maça!

A conformidade da realidade que escolhi para mim,
escolhi não ser escolhida para ser feliz
Mas não foi esta a felicidade que eu quis
de pedaços de amor

Ou apenas paixão da mesma cor

desse ... o Amor!




Profana

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Encontro


Pano branco quase de transparência perfeita
Pano que divide o instante em que não estou e o outro em que te toco

Vulto que procuro,
Gosto que sinto
... morder em mim o fogo da tua vontade com a minha vaidade Porque os Deuses desceram para me ver
trouxeram a insónia e deram calor e febre ao que eu pedia,

e respondi com curvas e anseios e devaneios

bocas de lábios quentes a salivar de desejo

Fui pele de tambor e tu o músico

foste voz da minha inconsciência

e guiaste-me no mar de prazeres
que me tiram a voz e libertam o grito

Reflexo sem espelho

o teu olhar procura os meus olhos respondem

gota de agua fria em ferro quente

até à extinção grita,

numa dança de consumição
para regressar ao ciclo
e novamente no ferro quente cair
e novamente se evaporar...



Profana

Jean-François Amadieu

Jean-François Amadieu
Jean-François Amadieu é um sociólogo francês especialista em relações sociais de trabalho e físicos determinantes sociais da seleção. Ele é o diretor do Centro de discriminação, que realiza testes a fim de conseguir a primeira medição científica dos diversos contratação discriminação na França.

Viver na consequência...

Acordo todos os dias ,e ao olhar em redor apercebo-me que vivo na consequência...
De facto vivemos todos... na consequência de coisas maravilhosas que fizemos, de ideias brilhantes que tivemos, de negócios rentáveis que fizemos ou... simplesmente como eu... na consequência de todas as borradas que fizemos...
A raiva surge todos os dias... de mim mesma... da obstinada ideia de que tenho um potencial infindável... que apenas uso para me "enterrar" cada vez mais...
É preciso ser se mesmo besta...
(Incrível esbocei um sorriso enquanto escrevia "besta")
Pois é meus amigos mas a vida não se faz de lamentações... para isso existem os bloggs...

Ass: Profana

Os tugas primeiro!!!

Numa das inúmeras viagens de carro (quando ainda tinha carro... que não era meu mas bem...) pela manhã, ouvi a notícia da rápida ascensão de caixeira a autora de um best seller...
Uma mulher mundana que resolve passar para o papel as suas histórias tão verdadeiras e tão surreais de um dia a dia ao som de um bip constante da leitura de codigos de barras (fosse do papel higiénico ou de um produto de emgrecimento f'ácil)... apesar de ainda nao ter sido o lançamento do dito livro em portugal resolvi pesquisar.
Para minha felicidade descobri que um português de seu nome Manuel de Freitas já tinha escrito um livro (entre muitos) com alguns denominadores comuns com o primeiro... o supermercado, a mulher, e as histórias...
Se a autora do segundo livro terá tido um tórrido romance com Manuel Freitas e terá plagiado tardiamente a ideia não sabemos...
Ficam aqui alguns "pedaços" do original...

Profana

Isilda ou a nudez dos códigos de barras

Dizem que ressuscitou o rock numa pose de vampiro.
Não sei. Pelas olheiras, sobre o cabedal tão velho, mais parece um agarrado,desses que costumo encontrar no 42.
Mau hálito tem- quase tanto como a voz. Mas leva sempre suminhos, crentes de beleza, fiambre.Dá-me a ideia que nele até o olhar cansado é uma mentira cosmética,que depois usa em voz alta contra o tal"sistema".
Eu talvez gritasse melhor.

Estou a ver o estilo:a folha de canabis ao peito, os óculos de Foucault não-li e uma devoção macrobiótica tão estúpida quanto inquebrantável.
Esta gente custa- e o que é pior:cheira mal.
Assoa-se à mangada camisola, cheio de ideologia nos sovacos. E vem fazer compras como se estivesse outra vez no Lux,entre amigos abstémios que só não legalizam a vida porque ainda há limites para o meu gosto.


Conheço-lhe a tromba da televisão,com a barba rude, intelectual, tão preta- mas a dela também, loura e desfocada. Acho que é dos jornais.São esquisitos, nunca falam(entre eles, ou comigo).Não me agrada assim tanto dizer "boa tarde" a Deus, enquanto vou passando vinhos caros, gine produtos bizarros cuja serventia desconheço. Se a esquerda é isto,bem posso ir esperando subsídios,aumentos, um funeral mais em conta.


É o que se chama um "higiénico": latas,comida feita e embalada, whisky,cerveja ou vinho (quando não os três).
Deve beber-lhe bem e mudar pelo menos duas vezes por semana a areia do gato.
É tímido, inseguro e- por isso mesmo-extremamente rápido a arrumar as compras.Vai pagar outra vez com cartão. Hoje parece mais triste, talvez por no seu íntimo saber já que vai escrever um poema sobre mim, mera ajudante de leiturados códigos fatais em que cada um se expõe.Mas para quê tantas palavras? Bastava-lheter dito que me chamo Isilda e que a vida que tenho não presta.
A dele,suponho, não será muito mais feliz.Escusava era de maçar a gente com o que sofre ou deixa de sofrer.

A minha sabedoria é muda, desumana:um dia enlouqueço ou fico para sempre presa a um pesadelo sentado, com barras transparentes.


Manuel de Freitas

Manuel de Freitas
Manuel de Freitas nasceu em 1972, no Vale de Santarém.
Vive desde 1990 em Lisboa, onde tem exercido as actividades de tradutor, crítico literário e editor. É co-director da revista Telhados de Vidro. Publicou, além de vários livros de poesia, ensaios sobre literatura portuguesa contemporânea e foi responsável, em 2002, pela organização da antologia Poetas sem Qualidades (Averno).
Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Literário Ruy Belo da Câmara Municipal de Sintra.